Paisagem Emergência

Em Le trois Ecologies (1989), Félix Guattari, nos alertou que a verdadeira resposta à uma crise ecológica estaria diretamente relacionada a uma revolução política, social e cultural, e que esta deveria acontecer em escala planetária. Mas, o que acompanhamos ao longo dos anos, foi uma intensificação das ações antropocêntricas e extrativistas em nome de um progresso econômico da civilização.
Atualmente, as mudanças climáticas e o aquecimento global não são mais uma previsão para o futuro, mas sim, uma realidade do nosso cotidiano. O aumento da pobreza, os desastres ambientais, as novas doenças que surgem e se proliferam, a acidificação do oceano, a poluição, a mudança nos ciclos de reprodução e a extinção de espécies marinhas, enchentes, seca, falta d'água, desmatamento, envenenamento por pesticida, queimadas em grande escala, entre outras questões, são acontecimentos diários que precisamos enfrentar e que sentimos também em nossos corpos.
Vivemos tempos estranhos, no “Tempo das catástrofes”, como afirma a filósofa Isabelle Stengers (2015). No entanto, não é tempo de fugir, até porque não há para onde, mas sim, tempo de resistir, de intervir.
É neste sentido que a arte, com o seu engajamento social, político, estético, e sobretudo, com a sua potência de intervir, gerando novas percepções e afetos sobre os modos de vida, possui um especial desafio neste contexto. Acreditando na força micropolítica da arte e inspirada pelo pensamento de Chantal Mouffe (2012), sobre a necessidade de ampliação do campo de intervenção artística para uma interferência direta na multiplicidade dos espaços sociais, iniciamos, em 2014, as ações de pesquisa e criação que compõem o projeto Paisagem Emergência.

Maré Rasante

A pesquisa-criação intitulada Maré Rasante foi desenvolvida entre 2014-2015 na praia da Requenguela, região de Icapuí, Costa Leste do litoral cearense. Com cerca de vinte mil habitantes, Icapuí, tem como principal atividade econômica a pesca artesanal da lagosta e é composta por treze praias, com paisagens singulares entre si. No entanto, o crescente aumento do nível do mar e a acidez das águas, em decorrência das mudanças climáticas, assim como a extração petrolífera em águas rasas e em terra (onshore) da Bacia Potiguar, vêm ao longo dos anos contribuindo para que a paisagem dessa região, assim como as atividades pesqueiras, sejam completamente modificadas. Este cenário nos aproximou do fluxo das marés e do dia a dia das comunidades tradicionais pesqueiras, principalmente, em sua temporalidade.
Na praia da Requenguela, o fenômeno das marés, com até 6 km de recuo, possibilitou uma experiência sensório-corporal no ambiente Mar e no tempo Maré, gerando assim, uma experiência espaço-temporal que nos impele a confrontar, a todo momento, o paradoxo entre a vida microscópica e a imensidão do mar, o infinito e o finito, o cheio e o vazio, o seco e o úmido. O tempo da pesca e o tempo da ação do pescador. A partir desta pesquisa, desenvolvemos ações performativas imersivas e sensoriais que propunham ao participante|performer uma reconexão com os aspectos naturais deste território.

Participantes: Walmeri Ribeiro, Patricia Caetano, Artur Dória, Eduardo Spenizo, Fabio José, Clara Bastos

Marés

Videoinstalação. Exibida no # 18 ART: Art, Emotion and Technology
Curadoria Paulo Bernardino
Museu de Belas Artes | Lisboa | Portugal | 2019

Criação: Walmeri Ribeiro
Imagens: Fábio José, Clara Bastos e Walmeri Ribeiro
Montagem: Walmeri Ribeiro e Sofia Mussolin

Discutindo as relações entre as temporalidades da natureza e da arte, a videoinstalação Marés é composta por dois vídeos gravados em tempo real, das 9:30 AM às 4:30 PM. Com 4 (quatro) horas de duração, cada vídeo apresenta um ciclo de maré, da cheia à rasante e da rasante à cheia, num movimento contínuo do mar, com seus ritmos, fluxos e deslocamentos.
Frente a temporalidade da natureza impressa à imagem, acompanhamos, ainda, o deslocamento de corpos que nos conduzem à finitude e (in)finitude do Mar. A opção estética por uma instalação com quatro horas de duração, se dá com o objetivo de confrontar, a partir da imagem digital, a temporalidade natural das marés à temporalidade da arte e do corpo do espectador neste espaço de fruição, propondo assim um olhar para si mesmo, uma reconexão, neste caso, a partir do tempo, entre Ser Humano e Meio Ambiente.

LAB_Paisagem Emergência

O LAB_Paisagem Emergência foi realizado na praia do Mucuripe, zona central da cidade de Fortaleza|Ceará. Cartão postal de Fortaleza, a praia do Mucuripe e sua comunidade de pescadores guardam muitas histórias da cidade e de suas transformações, das lutas populares e da tecnologia de pesca, especialmente, das jangadas, utilizadas até hoje nos mares cearenses. Contudo, apresenta também a contínua degradação social, humana e ecológica daquela pequena faixa de areia ocultada da cidade e invisibilizada socialmente.

Participantes: Walmeri Ribeiro, Patrícia Caetano, Lis Paim, Cecília Andrade, Fábio José, Ana Luiza Rios.

Vídeos desenvolvidos com os pescadores artesanais do Mucuripe.

Raízes Voadoras

O que podemos aprender com o mangue? Com esta pergunta realizamos a experiência Raízes Voadoras no mangue de Sabiaguaba,Fortaleza (CE). Equilíbrio, possibilidades, caminhos rizomáticos, um corpo em construção e relação com a natureza circundante.

Participantes: Walmeri Ribeiro, Patrícia Caetano, Fábio José, Clara Bastos, Emily Benvenuto

Apoio

INTERVIR REQUER CERTA BREVIDADE
Rio de Janeiro | Brasil, 2019-2023

Inspirada pelos apontamentos de Isabelle Stengers em seu livro “No tempo das Catástrofes”, onde a filósofa reflete acerca do nosso sentimento de impotência frente às catástrofes provocadas pelas mudanças climáticas e seus consequentes impactos sociais, Intervir requer certa brevidade

Clique e saiba mais

PAISAGENS TRANSITÓRIAS
Montreal | Canadá

Como experiências performativas imersivas em diferentes paisagens, climas e culturas, podem contribuir para mudanças paradigmáticas nos nossos modos de viver, habitar e pensar o mundo?

Clique e saiba mais

EM FRONTEIRAS
Portugal | Portugal

Em Fronteiras busca investigar e discutir poeticamente diferenças culturais e linguísticas entre territórios delimitados geográfica e politicamente, Portugal-Galícia|Português-galego

Clique e saiba mais